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Como a Kodak descobriu acidentalmente um teste ultrassecreto

Atualizado: 23 de mai. de 2021


Albert Einstein escreve carta á Eisenhower, presidente dos EUA


Em 1939, Albert Einstein enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, informando que os alemães estavam próximos de conseguir utilizar as descobertas recentes do interior dos átomos, em uma bomba com capacidade destrutiva inimaginadas pelo ser humano. Com o receio de que os alemães pudessem descobrir tal bomba, os americanos em 1942 iniciaram o projeto Manhattan, que no seu auge empregou em torno de 130.000 funcionários, com um custo total de 20 bilhões de dólares (dias atuais). Após 3 anos, com uma intensidade de trabalho duro e os principais físicos do país empenhados na produção deste artefato que ninguém saberia se funcionaria, numa manhã de 16 de Julho de 1945, uma luz e potência de intensidade nunca vista sobre a superfície da terra se formou, e naquele vale desértico do estado do Novo México, nos EUA o mundo mudaria para sempre. A primeira bomba atômica explodiria. Apenas 3 semanas após este teste, duas bombas são levadas e detonadas no Japão em Hiroshima e Nagasaki. Pela primeira vez na história, o ser humano teria capacidade de extinguir toda vida humana do planeta Terra.



Imagem de uma explosão atômica, milhares de vezes mais potente que uma bomba convencional


A Kodak, uma empresa americana que desde 1882 se dedicava a fabricação e comercialização de filmes fotográficos, possuía já diversas plantas de produção de filmes e negativos fotográficos. Agora, quem já rodou a manivela de uma máquina para retroceder o filme pode ir direto para a próxima imagem. As fotografias antigamente, eram realizadas com um filme que continha uma solução que era altamente sensível à luz. Quando este filme com esta substância era exposta através de uma lente, a imagem era “gravada” neste filme, que necessitava ir, em plena escuridão até uma agência que fazia a revelação da imagem gravada, que nada mais era passar esta imagem deste filme para um papel, onde a fotografia ficava então “revelada” neste pedaço de papel. Antigamente cada foto custava bastante, e a indústria de filmes fotográficos era bastante relevante.



Imagem de uma máquina fotográfica com um filme ajustado


Julian Webb, era um especialista da Kodak em produção de filmes para impressão de raios X. Foi então que ele foi chamado para resolver um mistério em uma das unidades de produção. Alguns clientes estavam devolvendo filmes para raio X, porque diziam que as chapas quando impressas possuíam muitas manchas. As chapas de raios X são ainda mais sensíveis que filmes fotográficos, fazendo com que a qualidade da embalagem seja ainda mais importante para a conservação da chapa. Nesta época, inclusive o elemento rádio, que ocorre naturalmente, já era conhecido pelos engenheiros da Kodak como causador de problemas nas películas de raio X, tanto que as fábricas eram instaladas em locais onde a empresa tinha pleno domínio sobre a matéria prima. Era ela que desenvolvia inclusive as embalagens dos seus produtos.



Chapa de raio X revelada, contendo manchas e pontos escuros, de fonte misteriosa


Webb então rastreou quais eram as embalagens utilizadas para este lote, e chegou à produção do dia 6 de Agosto, em uma unidade de Vincennes, Indiana. Após alguns testes na embalagem, ele se deu conta que o contaminante não era o elemento radioativo rádio, e era um contaminante que ele nunca havia encontrado anteriormente. Enquanto ele estava pesquisando a respeito deste material, um novo lote de filmes de outra planta, em Toma, também estava apresentando os mesmos defeitos, com manchas e pontos semelhantes nos filmes. O que este material misterioso estava fazendo nestas embalagens?



Distância da explosão das duas fábricas da Kodak que tiveram os problemas de produção


Seguindo sua investigação, ele descobriu que o agente que estava contaminando as embalagens continha uma alta fonte de radiação beta (que pode atravessar papel, a pele humana e é considerada perigosa) e baixa de radiação alfa (não atravessa nem o papel, e é considerada segura se não ingerida). Os estudos de Webb concluíram que a substância presente nas embalagens era Cério-141, um dos principais subprodutos de uma fissão nuclear.


Fábrica da Kodak nos EUA, Adobe | Carlo Allegri / REUTERS


Webb inferiu que a única forma destes elementos estarem presentes nas embalagens de papel era através da água dos rios que alimentavam as fábricas, e a incidência mais alta de contaminação ocorreu justamente após um longo período de chuva na região. Estes elementos teriam vindo carregados pelos ventos de uma região muito distante. Este efeito viria a ser chamado de cinza radioativa (Fallout). A empresa Kodak não tornou público estes dados, até 1949, quando Webb divulgou que as causas das manchas dos filmes fotográficos estavam diretamente relacionada à explosão atômica de 1945, o tema então foi amplamente discutido nos períodos que se seguiram.


Protótipo utilizado na explosão atômica no Novo México, EUA.


Diversas bombas atômicas explodiram no planeta desde então, em testes dos países que possuem esta arma, porém este tema sempre vem à tona: as bombas quando explodem emitem quantidades altas de resíduos radioativos, que são carregados pelo vento e depois voltam à terra pelas chuvas e são carregadas pelos rios. Houve então uma pressão crescente nos anos 50 para evitar os testes nucleares, e em 1963 foi assinado um tratado de interdição parcial de testes, que proibia as explosões. França e China não assinaram e tiveram suas últimas explosões em 1973 e 1980, respectivamente.


Em 1996, 181 países assinaram o Tratado de Interdição Completa de Ensaios Nucleares, que estabeleceu, além do banimento dos testes, uma rede de sensores espalhadas pelo mundo, usando sismologia, infrassons, hidroacústica e monitoramento de níveis de isótopos para monitorar e acusar qualquer teste nuclear que possa ter sido conduzido. Esta rede de monitoramento é tão sensível que detecta inclusive quando meteoros atingem a terra, como no caso do Meteoro de Tcheliabinsk (vídeo abaixo) ou vulcões entram em erupção.



Meteoro de Tcheliabinsk, em 2015 na Rússia, detectado pelo sistema de monitoramento de explosões nucleares.



Os efeitos que uma explosão atômica (ou um acidente nuclear) causam no planeta vão muito além dos efeitos locais, e podem ser sentidas milhares de quilômetros de distância, através do ar e dos rios.


Texto traduzido e adaptado de:

https://www.popularmechanics.com/science/energy/a21382/how-kodak-accidentally-discovered-radioactive-fallout/


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